quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Boas Festas!

O Blog MATOSINHOS: HISTÓRIA & FESTAS deseja a todos os seus leitores um felicíssimo Natal e um excelente ano novo! Que a paz de Jesus irradie sobre esta Terra cheia de injustiças, guerras e atrocidades iluminando a mente dos homens para que construam um mundo melhor, na fé, na fraternidade, na paz e na caridade. Desejamos uma bênção especial para a saúde e o fortalecimento de todos os combalidos, que se encontram nos leitos de dor dos hospitais, ou mergulhados nas sarjetas da vida e nos vícios em geral. Que a Divina Providência e a Divina Misericórdia do Todo Poderoso nos ampare amplamente em 2015.


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Multidão festeja o Senhor Bom Jesus em 2014

Seguindo firme a tradição religiosa, concluiu-se ontem, em Matosinhos, mais uma grande festa em honra ao padroeiro do bairro, o Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Após concorrido período preparatório de novena, com várias celebrações e a passagem de diversos celebrantes, a 14 de setembro foi comemorado o dia maior do jubileu.

Uma grande movimentação tomou conta do largo nesta festa de 2014. Estava cheio de barraquinhas de comes e bebes. No adro, além do tradicional leilão de gado e prendas, um grande palco armado propiciou shows e nas tendas aconteceu o tradicional jogo do víspora e vendas de pastéis e refrigerantes. 

Enfeites de bandeiras vermelhas e amarelas nos postes do adro, demarcavam as cores votivas e uma profusa iluminação completava o tom festivo externo. 

O altar estava muito florido, aliás, com primor, evocando a primavera. Destaque para as galhadas secas com flores artificiais amarelas, em papel-crepom, lembrando a exuberante florada dos ipês amarelos, típicos desta quadra do ano. 

As missas e pregações se sucederam muito concorridas e eloquentes, num forte momento de evangelização. Uma multidão gigante ordeiramente lotou o adro e o largo. Ao cair da noite, em duas longas filas ocupou a Avenida Josué de Queiroz. A alguns anos atrás o andor era levado sobre carro motorizado aberto. De uns tempos para cá, para contentamento geral, o andor voltou a ser carregado pelos fiéis na forma tradicional, sobre os ombros, não obstante seu grande peso. 

Notou-se a presença de muitos membros de irmandades da cidade e de crianças vestidas de anjos. A banda local, do Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, repleta de jovens, sob a competente batuta de Ronaldo Medeiros, deu uma nota de arte e alegria à procissão. O fluxo imenso de devotos comprovou, ainda, mais uma vez este ano, que esta é uma das maiores procissões de São João del-Rei, senão a maior delas. 

A veneranda imagem Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

A procissão ganha as ruas.
A imagem é guarnecida pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. 

Multidão de devotos presentes no grande jubileu. 

Enfeites florais do altar evocam a chegada da primavera
e se inspiram nos ipês amarelos, fartamente floridos nesta quadra do ano. 

Notas e Créditos 

* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli

sábado, 19 de julho de 2014

Jogatina além de Matosinhos

É muito propalado, que a invasão de bancas de jogos de azar foi o fator que desencadeou, a noventa anos, a paralisação da Festa do Divino de Matosinhos, em São João del-Rei. Foi oportunamente demonstrado nas postagens O Problema da Jogatina e Efeitos da Romanização: considerações gerais, que muito embora, o vício tenha de fato lastrado pela festa, esta justificativa foi um pretexto oficial para atingir outros objetivos, ligados ao processo de romanização. 



Como de fato, os jogos de azar mudaram a fisionomia do festejo tradicional e dele tolheram o que tinha de melhor. Os jornais são-joanenses da época possuem vários registros desta atividade em Matosinhos. A Nota, por exemplo, em 1917, dizia expressamente: "muita jogatina e pouca religião, todos ganham" (nº22) e "todo mundo está cansado de saber que todos jogam durante os festejos de Matosinhos" (nº25).

Porém, o seguimento das pesquisas revelou que não somente Matosinhos foi vitimado por este vício. Nas duas primeiras décadas do século XX, o mal costume invadiu também outras partes da cidade independente de festas. Ainda o mesmo jornal, no mesmo ano supracitado (edição nº60) revela a presença dos jogos na Rua Paulo Freitas (Bairro das Fábricas) e a compara a Matosinhos em dia de festas, como mostra a fotografia abaixo. 

 

"A rua Paulo Freitas está parecendo o largo de Mattosinhos nos dias da tradiccional festa ... A meninada installou alli um 'jaburu', onde os botões e favas são disputados como se valesse muito bom dinheiro. A polícia precisa volver as suas vistas para o caso, porque bem pequeno é que se adquire o vício."
  

Fato é, que em verdade, o problema explodiu nos anos vinte mas já andava sério bem antes. O contundente jornal A Farpa, em 1901 (nº8) já dizia sintomaticamente: 

"Está grassando a epidemia do jogo n'esta cidade. Em cada rua uma banca, em cada bairro uma tavolagem, em cada canto uma roda de jogatina.". 

A matéria fez um diagnóstico e clamou por ação policial, pedindo providências "que não devem atingir só o pobre e o fraco; devem ser iguaes para todos, porque todos são iguaes perante a lei", abordando o velho problema e deixando antever que o vício atingia todas as classes sociais. O texto foi publicado em outubro, fora das épocas festivas de Matosinhos e em verdade nem cita este bairro.


Também o Ten-Ten, no setembro de 1907, citou a presença do jogo, dizendo-o relativamente atenuado pela chegada de novas melhorias à cidade: "bellas diversões, novos e magnificos jornaes, fabricas, clubs, associações..." 


Mas foi de fato uma fase. O jogo voltou a crescer e nem a paralisação da festa de Matosinhos não o extirpou. Bem mais tarde, em 1938, no centro da cidade, a pavuna tomava conta da Rua Artur Bernardes, a ponto do jornal Diário do Comércio clamar pelas autoridades sob a insinuação de São João del-Rei ser o "Paraíso dos Jogadores"

Como se vê o caso de Matosinhos não foi isolado. O jogo foi nessa época um imenso problema social. A continuidade das pesquisas certamente revelará os episódios seguintes desta infeliz página de nossa história. 

Referências Hemerográficas

A Farpa, n.8, 27/10/1901
A Nota, n.22, 28/05/1917
A Nota, n.25, 31/05/1917
A Nota, n.60, 11/07/1917
Diário do Comércio, n.170, 04/10/1938
Ten-Ten, n.1, 15/09/1907

Notas e Créditos

* Texto e fotomontagens: Ulisses Passarelli
** Fonte: acervo digital, site da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d'Almeida, São João del-Rei/MG
*** Obs.: todos os jornais aqui citados eram publicados em São João del-Rei  

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Cenas Pentecostais: o Dia Maior em 2014

O tradicional Jubileu do Divino concluiu-se com êxito neste Domingo de Pentecostes, dia 08 de junho do corrente, firmando-se na fé, na musicalidade, na alegria cheia de colorido. A grande Festa do Divino mais uma vez congregou dançantes de vários grupos do município, das circunvizinhanças e de mais além dos limites dos Campos das Vertentes, graças à devoção ao Paráclito. 

Depois da novena e muitos eventos prévios, o domingo, coroado por um tempo esplêndido, se revestiu de um universo de ritmos, melodias laudatórias e cores esvoaçantes, tudo em louvor ao Espírito Santo. Edmilson deixou a Santa Coroa para Dácio e com isto a irmandade dos imperadores ganhou mais um membro. Seja bem vindo e tenha um feliz império!

Veja alguns detalhes deste ano nas fotografias abaixo, difíceis de selecionar ante tantas imagens bonitas que o evento oferece. 

Debaixo da umbela, na porta do santuário diocesano, 
o Imperador Coroado Edmilson Washington da Silva, cingido de faixa, 
ladeado pelo Imperador Eleito, Dácio Sebastião de Carvalho
 e pelos guarda-coroa com espadas, recepcionam os grupos visitantes, 
entregam lembranças artesanais e são saudados pelos congadeiros. 

        
Irmãos do Santíssimo Sacramento da paróquia 
e membros da Comissão do Divino com o estandarte e guiões 
abrem o Cortejo Imperial, seguidos imediatamente pelo congado do bairro. 

Debaixo de forte sol o povo se aglomera para ver a chegada do Cortejo Imperial. 
No momento retratado o moçambique são-joanense do Solar da Serra faz sua entrada.

Pela primeira vez presentes, congadeiros de Itatiaiuçu 
dançam o catupé na chegada ao santuário.

Com muito entusiasmo e elegância, o Reinado do Rosário faz sua entrada: 
Reis, Rainhas, Príncipes e Princesas são convidados especiais do Imperador do Divino
 para se irmanarem na grande festa ao Paráclito. 

Uma evolução dos Marujos do Capitão Ganair, 
de Conselheiro Lafaiete, presença tradicional no jubileu.

Gungas de Passa Tempo, 
choram na ingoma as tristes lembranças do cativeiro... 

Imperadores de vários anos assistem a Missa Solene. 

O novo Imperador, Sr.Dácio, coroado pelo Bispo Diocesano,
 Dom Célio de Oliveira Goulart.

A vanguarda da grande e solene Procissão do Divino, 
que lota as vias principais do bairro-cidade. 

Notas e Créditos 

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli, 08/06/2014.
*** Veja também: VÉSPERA DE PENTECOSTES EM SÃO JOÃO DEL-REI

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Programação da Festa do Divino 2014


Aproxima-se mais uma Festa do Divino, no Bairro Matosinhos. São João del-Rei acolhe com muito carinho este festejo com seu caráter regional, para cujo êxito depende não só dos paroquianos de Matosinhos mas igualmente de outros bairros, distritos e cidades convidadas. 

Em Pentecostes, a coroa este ano deixa o Imperador Sr. Edmilson Washington da Silva, coroado em 2013 e passa para o novo Imperador, Sr. Dácio Sebastião de Carvalho. Antes, porém, transcorrem diversos eventos preparatórios. 

Mastro de aviso.
Além do giro das folias do Divino às casas, que já começou e acontece sem alarde por vários bairros, acontece dia 29 do corrente uma visita de praxe à residência do imperador que ora detém a coroa, a partir das 17 horas. Os caixeiros farão ali sua saudação. De costume o grupo segue para o santuário, mas este ano foi introduzido como novidade uma sequência, na qual o grupo parte com o imperador e membros da comissão de festa até o Salão de São Sebastião, na Avenida Santos Dumont para novas homenagens. Dali o grupo seguirá em cortejo até o santuário, agora com o reforço do congado do lugar. Após a celebração será como de costume descida a imagem do Espírito Santo para o início da novena. 

Sexta-feira, dia 30 de maio, inicia a novena do Espírito Santo, celebrada no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, às 19 horas. A cada dia estão previstas as participações de comunidades paroquiais, movimentos, pastorais e grupos convidados, em parte reformulando o esquema das romarias. O levantamento dos mastros acontece no primeiro dia da novena, com congados locais, após as celebrações. 

A Cavalgada do Divino está marcada para as 09 horas da manhã do domingo, 01 de junho, e pela primeira vez não parte do santuário e está sob nova coordenação. Ela vem do distrito de Santo Antônio do Rio das Mortes Pequeno e termina no Campo do Siderúrgico (Avenida Santos Dumont). 

O sábado seguinte, 07 de junho, é a vez da Procissão do Imperador Perpétuo, também inovando com um horário mais cedo (16h e 30min) e abandona o itinerário tradicional do Matola para circular pelo centro histórico, acompanhada em parte pela Banda de Música Municipal Santa Cecília, sob a competente batuta de José Antônio da Costa, e no todo pelas folias do Divino, que após as celebrações noturnas farão o típico encontro no coreto. 

Coreto ainda em fase de montagem.
Ao contrário de anos anteriores não se vê na programação previsão de shows para o período em questão, apenas um show de encerramento do jubileu, no estilo evangelizador. 

A programação do dia maior está resumida na tabela abaixo, tendo como novidade o deslocamento do reinado da Vila Santo Antônio para o Jardim Paulo Campos e a saudação ao imperador na parte da manhã. 

6h
Alvorada festiva
7h
Missa festiva
8h
Chegada dos congados
9h 30 min
Missa das Crianças (Igreja de Santa Terezinha)
9h 40 min
Recolhimento do reinado seguido de saudação ao imperador
10h 30 min
Chamada dos reis, rainhas, príncipes e princesas (no santuário)
13h
Saudação dos congadeiros a N.S.do Rosário (Igreja de Santa Terezinha)
14h
Cortejo imperial (da Santa Terezinha ao santuário)
16h
Missa Solene seguida de coroação do novo imperador
17h
Procissão solene seguida de bênção do Santíssimo Sacramento
20h
Descida dos mastros e despedidas dos congadeiros. A seguir, show de encerramento.

O adro foi adaptado para as novas exigências de segurança com abertura de mais um grande portão (corrediço) na lateral da praça. O coreto está montado, bem como as barracas. O mastro de aviso sinaliza as datas do jubileu. Pentecostes aproxima-se. Festa da alegria. É o momento da confraternização comunitária e da comunhão pascal com o sagrado. 

Notas e Créditos

* Texto e fotos (11/05/2014): Ulisses Passarelli

terça-feira, 20 de maio de 2014

Ser Imperador

No ano anterior escrevi sobre os imperadores da Festa do Divino quanto ao aspecto histórico, pincelando algumas informações acerca da escolha e coroação. No informativo do jubileu de 2013, este texto pode ser lido pelos que se interessarem nestas informações.

Mas ora focalizo outra vertente, bem mais intrínseca e difícil de explanar, ligada à idealização do que se espera de um Imperador do Divino. Sou suspeito para falar e eu mesmo não sei se sou ou fui o que escreverei, mas colocarei o que penso que todos os imperadores devessem se esforçar para ser.

É preciso entender que o imperador representa na festa do Espírito Santo um personagem muito tradicional, que concentra em si todo o simbolismo da cultura popular acerca do sagrado em relação a esta festa. Sua figura é muito respeitada e se torna o festeiro de honra, o representante maior da comissão de festejos nos eventos sociais e religiosos ao longo de todo o ano. Se o presidente é na atualidade a figura maior na estrutura administrativa do Jubileu do Divino, o imperador é o elemento exponencial na estrutura simbólica, festiva e cultural.

Isto impõe à Comissão Organizadora uma grande responsabilidade na escolha do próximo imperador a cada ano. É preciso escolher com plena maturidade, senso crítico, isenção de questões pessoais. Uma escolha eventualmente mal sucedida pode ser desastrosa, até porque o imperador perde a coroa, mas não perde o império ante o novo coroado; em outras palavras, segundo entendimento geral dos festeiros, não existe ex-imperador, mas imperador de 1998, de 1999, de 2000... etc.

Os possíveis candidatos devem ser analisados sob um crivo de comportamento, dedicação, empenho, responsabilidade, apego à causa, trabalho prestado à festa, espírito de cooperação. Logo se vê que o ato de ser imperador não deve ser encarado como uma aventura, um luxo ou um degrau social a se subir para ganhar visibilidade. É um compromisso vitalício, perene.

O grau de comprometimento com a programação festiva, com as reuniões ordinárias e extraordinárias, com as participações em outros eventos que a comissão organizadora é convidada e com a coordenação das atividades cotidianas exigidas para a difícil tarefa de organizar a festa, tudo enfim, deve ser intenso e vivenciado com fé. Por traz da capa de veludo, da gravata, dos aplausos e flash’s fotográficos existe o peso de uma grande responsabilidade.
Bispo Diocesano de São João del-Rei,
Dom Célio de Oliveira Goulart,
coroa o Imperador do Divino,
Edmilson Washington da Silva.

É preciso pontuar também a natureza específica dos festejos em São João del-Rei, que reúnem no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos um número considerável de grupos culturais, sobretudo congados e folias, com os quais o imperador deve exercer um papel de interlocução, fazendo o elo que diferencia por completo a presença deles, de mera apresentação para uma participação integrada. Desta forma, como o grande anfitrião, deve ter pleno respeito aos congadeiros e foliões, mesmo que não compartilhe de suas crenças e ritos.

Na outra ponta o imperador é o canal da maior importância para conservar o diálogo com o clero, transmitir e fazer cumprir as diretrizes eclesiásticas, sendo a Igreja a verdadeira Mãe da comemoração, que em síntese acontece em seu espaço físico e orientação espiritual. Nunca é demais lembrar que Pentecostes é uma data litúrgica das mais relevantes para o cristianismo e o Jubileu do Divino desde sempre é uma festa católica.

Defendo que a Comissão do Divino devesse estruturar um “Conselho dos Imperadores” como órgão consultivo, que poderia ser muito útil diante de questões as mais diversas e que reforçaria a coordenação da festa pelo compartilhamento de responsabilidades.  

O imperador é, portanto, o festeiro especial, aquele que acolhe e transmite, pondera e equilibra, recepciona e promove, dá o exemplo e arregaça as mangas para o trabalho, que se inteira da história da festa e da programação para seu próprio saber e para respaldo das entrevistas e perguntas de fiéis. Ser imperador é encarnar e incorporar o festeiro ideal, que age em irmandade, movido pela devoção, dando seu esforço voluntário pelo bem comum. 

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 20/05/2013
*** Texto escrito a pedido da Comissão do Divino. Publicado em: Informativo do Jubileu do Divino Espírito Santo, São João del-Rei, Paróquia de Matosinhos, n.17, jun./2014. 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Excelência de Nossa Senhora da Lapa

As excelências (também chamadas excelenças e incelenças) são cantos sagrados, mortuários em geral, mas também invocatórios e para livrar de males específicos (temporais, pestilencias), do universo da religiosidade popular, usados para velar cadáveres, geralmente entoados por mulheres. Assemelham-se aos benditos, dos quais se diferenciam por alguns detalhes. As primeiras tem tipicamente a sequência numérica de execução que deve ser cumprida. Uma... 

Duas lecontina
eu hei de rezar,
que essa chuva muito brava
ela há de parar!

Duas lecontina [palavra sagrada, reza]
que eu rezei, Jesus, Maria, 
se não viesse ao mundo,
ai, de nós, o que seria?

Três lecontinas, quatro, etc.

O detalhe numérico não acontece com os benditos, nos quais "o canto se repete indefinidas vezes, variando as dimensões das estrofes; em algumas circunstâncias, apresenta um caráter narrativo", segundo GOMES & PEREIRA (1995). Denota-se o uso frequente da expressão "bendito, louvado seja!", como fórmula-feita, sendo cantados aos pés do defunto. 

GOMES NETO (1979) se refere em especial ao fato de a excelência ser "uma súplica ao santo, enquanto o bendito é-lhe um canto de louvor..." 

CASCUDO (s/d) ensina que as excelências são cantadas em uníssono, sem acompanhamento instrumental, à cabeceira dos defuntos, que não podem ser interrompidas até o cumprimento de todo o rito sob pena daquela alma não se salvar, pois Nossa Senhora se ajoelha para ouvir o canto e só levanta quando acaba.

POEL (1977) esclareceu sobre as incelências:

"(...) nos livros chamados de excelências, são pequenos cantos sempre repetidos 7, 9 ou 12 vezes, cantados por parentes, amigos e vizinhos em redor de um defunto adulto durante a sentinela noturna. (...) ao mesmo tempo são cantos de despedida pelos quais o povo desabafa seus sentimentos de tristeza e desespero. Nesse contexto há abusos de bebidas alcoólicas." (p.18)

O canto das excelências é conhecido em Portugal, embora os rituais mortuários tenham uma natureza cosmopolita.

A devoção a Nossa Senhora da Lapa rendeu um curioso exemplar do cancioneiro religioso, coletado em Santa Cruz de Minas, cujo desenrolar dos versos em quadras, rimadas no sistema ABCB, tem um caráter enumerativo. Em duas audições da mesma informante, em ocasiões distintas, numa não havia preocupação com a ordem dos números; em outra, a sequência crescente era respeitada, tal como ouvi:

Imagem de N.S.da Lapa,
Santuário do Sr.Bom Jesus de Matosinhos,
São João del-Rei/MG.
Nossa Senhora da Lapa
tem uma estrela na testa,
foram os anjos que puseram
no dia de sua festa. 

Nossa Senhora da Lapa
tem duas estrelas no rosto, 
foram os anjos que puseram
no dia de seu encosto. 

Nossa Senhora da Lapa 
tem três estrelas na mão,
foram os anjos que puseram
no dia de São João. 

Nossa Senhora da Lapa 
tem quatro estrelas nos pés, 
foram os anjos que puseram
no dia de São José. 

GOMES & PEREIRA (1995) registraram uma versão dessa excelência em São Gonçalo do Abaeté/MG, classificando-a como "de invocação":

Nossa Senhora da Lapa
Com seu sinale [sinal] no rosto
foi os anjos que lhe pusero 
no dia 01 de agosto. (p.314)
(segue: 02 de agosto, etc.)


Referências Bibliográficas

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro, [s.d]. 930p.

GOMES NETO, José. Alguns apontamentos sobre incelenças. Revista Norte-rio-grandense de Folclore, Natal, Comissão Norte-rio-grandense de Folclore, n.1, jun.1979, p.46-60.

GOMES, Núbia Pereira de Magalhães, PEREIRA, Edimilson de Almeida. Do presépio à balança: representações sociais da vida religiosa. Belo Horizonte: Mazza, 1995.

POEL, Francisco van der, Frei. Deus vos salve, Casa Santa!: pesquisa de folc-música religiosa. São Paulo: Paulinas, 1977. 87p. 

Notas e Créditos

* É corrente em São João del-Rei um ponto de umbanda da linha dos baianos, com pequenas variantes, que cita esta invocação mariana:

"Nossa Senhora da Lapa,
da lapa do Bom Jesus!
Baiano quando chega,
ele vem aos pés da cruz."

No segundo verso existe uma alusão expressa ao Bom Jesus da Lapa, uma das maiores expressões devocionais baianas, centrada no vale do Rio São Francisco.

** Texto: Ulisses Passarelli.

*** Fotografia: Iago C.S. Passarelli (14/09/2013).

*** Informante das excelências (lecontina e N.S.da Lapa): Elvira Andrade de Salles, Santa Cruz de Minas, 1996.

***** Para saber mais sobre Nossa Senhora da Lapa clique neste link: Virgem da Lapa  


domingo, 23 de março de 2014

Congado de Santa Cruz de Minas na Festa do Divino de 2012

Ulisses Passarelli, ladeado pelos irmãos capitães de congado de Santa Cruz de Minas, 
Danilo Francisco de Assis (esquerda) e Jamiro Aparecido de Assis (direita), no salão do almoço. 

Ulisses e Danilo, na Praça de Matosinhos.

O congado chega à Igreja de Santa Terezinha para a formação do cortejo imperial. 

Congado de Santa Cruz de Minas em marcha pela Avenida Sete de Setembro em Matosinhos, durante a Festa do Divino, rumo ao Salão Comunitário de Santo Antônio para o recolhimento do reinado. O retrato mostra o momento de união das duas guardas daquela cidade: a do Capitão Danilo (bandeira vermelha; aparece o primeiro à direita, batendo tarol) e do Capitão Jamiro (bandeira branca, primeiro à esquerda, batendo caixa azul). O autor deste blog teve a honra de ser convidado para participar desse congado no ano em questão. 


Notas e Créditos


* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C. S. Passarelli, 2012. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Programação da Semana Santa em Matosinhos, 2014


O blog Matosinhos: história & festas, veicula nesta postagem a programação das comemorações sacras da Semana Santa na Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matosinhos previstas para 2014, replicando o conteúdo recebido via e-mail. Nesta oportunidade fica registrado o agradecimento à atenção de Éder F. Campos pelo envio deste conteúdo. Vale ressaltar que as comemorações em questão, ano a ano tem crescido em movimento, organização e qualidade neste santuário, sendo uma das mais relevantes festas do grande bairro de Matosinhos. 

Notas e Créditos

* Texto: UIisses Passarelli
** Leia também: Semana Santa em Matosinhos (item 17)  


*  *  * 

Semana Santa em Matosinhos
Paróquia/Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus de Matosinhos
Diocese de São João del-Rei/MG

Dia 02 de abril - às 19h30min, Mutirão de Confissões no Santuário.
Setenário das Dores de Maria Santíssima
De 04 a 10 de Abril
19h00-Na Igreja de Santa Teresinha - Missa, Setenário e Confissões.
Sexta-Feira das Dores - 11 de abril
19h00-Na Igreja de Santa Teresinha, Missa, Procissão de Nossa Senhora para o Santuário.
20h30min- No Santuário, Confissão Comunitária para os adultos.
Sábado - 12 de abril
10h00- Confissão Comunitária para as crianças na Igreja de Santa Teresinha.
19h00-No Santuário, Missa e  Confissão Comunitária para os casais.
Domingo de Ramos -13 de abril
08h00-No Inocoop, Bênção dos Ramos, procissão até o Santuário e Missa Solene.
17h00-Missa na Igreja de Santa Teresinha.   
19h00-No Santuário, Missa e Confissão Comunitária para os jovens.
Segunda-Feira Santa -14 de abril
07h00-Missa e Confissões  na Igreja de Santa Teresinha.
14h30min - Na Igreja de Santa Teresinha, Confissões.
18h30min - Na Igreja de Santa Teresinha, Confissões.
19h00- No Santuário, Missa e Procissão do Sr. dos Passos para a Igreja de Santa Teresinha.
Terça-Feira Santa -15 de abril
06h00- Via Sacra saindo do Santuário rumo a Igreja de Santa Teresinha.
07h00-Missa e Confissões na Igreja de Santa Teresinha.
14h30min - Na Igreja de Santa Teresinha, Confissões.
19h30min-Procissão do Senhor dos Passos saindo da Igreja de Santa Teresinha.
19h30min-Procissão de Nossa Senhora das Dores, saindo do Santuário.
20h00-Em frente o Santuário, Sermão do Encontro e Procissão para o calvário.
Pregador do Sermão: Pe. Javé Domingos da Silva (DD. Vigário da Paróquia de N.S. da Penha de França - Resende Costa).
Quarta-Feira Santa -16 de abril
06h00- Procissão Penitencial com a imagem de Nossa Senhora das Dores saindo do Santuário rumo a Igreja de Santa Teresinha.
07h00-Missa e Confissões  na Igreja de Santa Teresinha.
14h30min - Na Igreja de Santa Teresinha, Confissões.
18h30min - Na Igreja de Santa Teresinha, Confissões.
18h30min- Procissão da Soledade de Maria, da Igreja de Santa Teresinha rumo ao Santuário.
19h30min-No Santuário, Missa e  Confissão Comunitária para os adultos.
Quinta-Feira Santa -17 de abril
09h30min-Na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar - Missa Solene do Crisma.
18h30min-No Santuário, Missa Solene da Ceia do Senhor, Sermão do Mandato, Lava Pés. Procissão interna do Santíssimo Sacramento e Adoração até à meia noite, na Capela do Santíssimo. Em seguida, desnudação dos altares.
Sexta-Feira Santa - 18 de abril
06h00-Via Sacra pública da CF 2014, saindo do Santuário rumo ao Cruzeiro Luminoso.
09h30min-No Santuário, Confissão Comunitária para os adultos.
15h00-No Santuário, Solene Ação Litúrgica.
20h00-Em frente o Santuário, Paraliturgia do Calvário: Sermão, Descendimento da Cruz e Procissão do Senhor Morto. (Favor trazer a sua vela.)
Pregador do Sermão: Pe. Fábio José Damasceno (DD. Pároco da Paróquia de Sant'Ana do Barroso).
Sábado Santo - 19 de abril
20h00-No Santuário, Solene Vigília Pascal.  (Favor trazer a sua vela).
Domingo da Ressurreição - 20 de abril
07h15min-Adoração ao Santíssimo Sacramento e bênção.
08h00 – Missa Solene no Santuário.
09h30min-No Santuário, Missa com as crianças.
11h00 - Celebração do Batismo.
17h00- Missa na Igreja de Santa Teresinha e procissão do Santíssimo
Sacramento  em direção ao Santuário, na chegada bênção do Santíssimo Sacramento.
19h30min - No Santuário,  Missa e encerramento da Semana Santa 2014.

Aprovado em Fevereiro de 2014,
Pe. José Bittar (Pároco/Reitor)
Pe. Geraldo Sérgio França e Pe. Vinicius Idefonso Campos  (Vigários Paroquiais)




quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Noventa anos de um grande folião!

Ontem à noite, 19 horas, no Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em São João del-Rei, celebrou-se missa na intensão do folião plenamente ativo João Batista do Nascimento, mais conhecido por "João Matias", comemorativa de seus 90 anos de vida, completos no último dia 08. 

Missa dos 90 anos do Sr. João Matias.

A celebração foi dirigida pelo Padre Admilson Heitor de Paiva, que expressamente mencionou o aniversariante e o cumprimentou em pessoa. Contou com a presença de filhos do homenageado e foliões de alguns grupos da cidade: Geraldo Elói, Didinho, Fanico, Virgilinho, João Bosco de Lima, Carlão, além de folieiros de várias folias desta urbe.

Ao fim da missa, na sala da Comissão Organizadora da Festa do Divino Espírito Santo, transcorreu uma sessão de homenagens ao folião Matias, com a presença de vários festeiros do Divino, congadeiros, folieiros e visitantes, dentre os quais, Betânia Sobrinho, da Secretaria de Cultura de Santa Cruz de Minas, pessoa esforçada que sabe valorizar a cultura popular. 

  

Acima: à esquerda, Luthéro entrega a faixa de Mestre ao sr.João Matias; à direita, Sanival aplica a estrela. 


Matias e a camisa da Associação.
De início, o anfitrião Sanival Nunes, Presidente da Comissão do Divino, assumiu a palavra de abertura e convocou a formação da mesa, convidando o autor deste, como Superintendente de Cultura da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de São João del-Rei e o Fundador e Presidente da Associação dos Agentes Culturais das Vertentes (que congrega congados e folias da região), Luthéro Castorino da Silva. Sanival explanou um pouco sobre a história do homenageado, narrando o fato da sua convocação para a 2ª Grande Guerra, mas felizmente, pela Maria Fumaça, retornou em segurança a partir de uma dispensa de tropas em Juiz de Fora. Ulisses Passarelli, após palavras de valorização das folias e congados, destacando a presença dos líderes da cultura popular, procedeu uma condecoração em nome da Casa Santos Reis, instituição sediada em Manuel Duarte, distrito de Rio das Flores/RJ, concedida pela benesse do folclorista Affonso Furtado, que reconhece o longo trabalho dos mestres da cultura popular na área dos reisados brasileiros. 

Ulisses convidou o folião e capitão de congado Luthéro para colocação da faixa de Mestre no sr. João Matias, ao som da leitura bíblica do Livro do Profeta Isaías, capítulo 22, versículos 19-23 e Sanival para afixação da estrela, sob o trecho de inspiração evangélica no 2º capítulo de São Mateus. Todos aplaudiram o Mestre Matias. 

Na sequência, a palavra foi passada a Luthéro, que também é Imperador do Divino (coroado em 1999), o qual traçou um panorama das ações da associação dos congadeiros e folieiros e em palavras de homenagem à longevidade e contínua ação do agraciado, lhe ofertou a camisa feita pela associação, literalmente o primeiro filiado a recebê-la. 

João Matias e José Cláudio Henriques.

Sanival em nome da Comissão do Divino ofertou-lhe uma placa alusiva à comemoração e ainda, a seu convite falou o imperador e escritor José Cláudio Henriques, ambos enaltecendo as atividades dos grupos folclóricos e a importância dos mestres. 

Por fim em breves e eloquentes palavras, concluídas em tom de bênção, o pároco de Matosinhos, Padre José Bittar se dirigiu ao ilustre folião deixando claro seu exemplo de vida. 

João Matias  com  os presentes recebidos, ao lado de Padre Bittar.
Congadeiros do Solar da Serra, no bairro são-joanense Colônia do Marçal, agora sob nova presidência, de Marcos Aurélio Coelho, cantaram um parabéns com seus tambores, na voz do capitão Celso.

Congadeiros do Solar da Serra - Marcos Aurélio e Dona Lúcia 
seguram respeitosamente a Bandeira do Rosário.


Foi então aberto pela Comissão uma mesa de salgados e refrigerantes aos presentes em clima de confraternização. Para concluir os foliões de vários grupos se juntaram fraternalmente num único conjunto que perpassou várias toadas reiseiras e pentecostais com versos de homenagem, cabendo também ao próprio João Matias cantar alguns, em letras de gratidão.  

Notas e Créditos

* Texto: Ulisses Passarelli
** Fotos: Iago C.S. Passarelli
***Leia também: João Matias: homenagem ao grande mestre