Uma comissão composta pelos
srs. Waldemar Marques (presidente), Jorge Salomão (vice-presidente), Alfie
Lopes (secretário) e José Batista da Costa (tesoureiro), foi formada em 04 de
outubro de 1966, para cuidar dos meios da edificação de uma nova igreja. A
bênção da pedra fundamental, pelo bispo Dom Delfim, ocorreu a 09 de setembro de
1968.
Teve assim início a
construção em estilo moderno, ladeando a velha, barroca. Pesquisadores já deram
maiores detalhes acerca deste triste episódio e não carece repeti-los. A sólida
construção veio abaixo e fora daqui repercutiu-se a notícia da demolição. A
Comissão Promotora das Comemorações do Centenário da Guerra da Tríplice
Aliança, oficiou à sede diocesana rogando não se destruir o templo antigo.
Respondeu o bispo [1]:
São João del-Rei, 8 de junho de 1966
Exmo.Sr. General Dióscoro Gonçalvez Vale
DD. Comandante da ID / 4
Belo Horizonte
L.J.C. et M.
Recebi, com o maior aprêço, o veemente apêlo no sentido de obstar a
planejada demolição da igreja de Bom Jesus de Matozinhos, desta cidade,
apresentado por V. Exa. em nome da Comissão Promotora das comemorações do
centenário da Guerra da Tríplice Aliança, que vem, num elogiável programa de
civismo, propugnando por medidas que representam a defesa do que é patrimônio
de todos nós brasileiros. Na oportunidade, informo a V.Exa. que o referido
assunto está sendo estudado e, que, logo que se tenha uma decisão, comunicarei
a V. Exa. Esperando em Deus, que tudo seja resolvido satisfatoriamente,
apresento a V. Exa. os protestos de alta estima e profunda consideração,
subescrevendo-me, de V. Exa. servo em J.C. Delfim Ribeiro Guedes - Bispo de São
João del-Rei.
A
intervenção do general se baseava num fato histórico e militar. A mesma fonte
informa:
São João del-Rei foi dos municípios que mais concorreram com
voluntários [para
a Guerra do Paraguai]. Aquela comuna não
se limitou a mandar seus filhos para a campanha. Recebia festivamente e tratava
muito bem as companhias de voluntários que por ali passavam, como se deu, por
exemplo, com as do Sul de Minas, que se destinavam a Uberaba. Interessante é
que existe em São João del-Rei (embora haja o propósito de demoli-la) uma
igreja histórica, a do Bom Jesus de Matosinhos. (...) os grupos de voluntários de São João del-Rei ali assistiam à missa,
antes da partida. Os grupos de voluntários de Passos e de outros lugares que
por São João passavam, pernoitavam na igreja e, no dia seguinte, ali mesmo
assistiam à missa, antes de continuar a marcha.
Um
dos pretextos é que estava ruindo, baseado no mau estado do telhado, ao qual
bastava uma reforma. A imprensa divulgou que o telhado da sacristia tinha caído
[2].
Nenhuma providência foi tomada para corrigir o problema. Publicou-se (e era voz
corrente), que a igreja não era tombada pelo patrimônio [3]:
“esta afirmação pode ser comprovada pelo
telegrama recebido pelo Padre Jacinto, pároco daquela região, telegrama este
mandado pelo diretor do Patrimônio Histórico Nacional, sr. Rodrigo de Melo
Andrade”.
O próprio pároco afirmava a falta de tombamento da
igreja, como se pode averiguar por seu próprio depoimento num documentário
acerca da devoção ao Bom Jesus [4].
Em
não sendo tombada uma igreja, a intervenção ou demolição compete unicamente à
decisão do clero; mas no caso de ser, depende de autorização legal dos órgãos
competentes. Ocorre porém que a igreja era tombada pelo patrimônio, através do
processo nº 68-38 do SPHAN, inscrito no Livro de Tombo de Belas Artes, v.1,
folha 2, de 04/03/1938.
A
conclusão da obra durou alguns anos. Em 1977 estava quase pronta [5]:
Padre Jacinto Lovatto Filho, pároco de Matosinhos, vem supervisionando
os últimos trabalhos de acabamento da grandiosa igreja do Bom Jesus, daquele
bairro, que teve a sua construção iniciada no dia 4 de outubro de 1965, Dia de
São Francisco. A nova igreja, com 1.420 m2 de área construída, em
forma de cruz, está recebendo agora a parte de mármore em todas as paredes. O
altar está centralizado na cruz, sendo que na parte do fundo se encontra o
símbolo da Santíssima Trindade e um globo com a imagem de Bom Jesus
abençoando-o.Vitrais laterais são em número de vinte e oito, com vidros importados
da Bélgica, adquiridos há alguns anos. O piso do corpo do templo será revestido
em paviflex. Padre Jacinto reuniu os recursos financeiros para a construção da
Igreja com a ajuda dos fiéis da paróquia, que pagam uma mensalidade e,
principalmente, das festas ali realizadas periodicamente. Para administrar a
execução da obra, foi constituída uma comissão de construção da igreja composta
por: Presidente – Waldemar Marques; Vice-presidente – Jorge Salomão; Secretário
– Antônio Silveira e Tesoureiro – Pe. Jacinto Lovato.
A
bênção na nova igreja foi dada em 01 de janeiro de 1980. A placa comemorativa,
afixada na fachada da igreja, à esquerda de quem entra, diz:
Casa de Deus – Porta do Céu
– Gên. XXVIII, 17 Esta igreja matriz do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, hoje
consagrada e inaugurada, foi construída no período de 04-10-1965 a 31-12-1979,
pela inspiração e direção do pároco, cônego JACINTO LOVATTO FILHO, com a ajuda
da generosidade do povo desta cidade, especialmente deste bairro. A comunidade
agradece a Deus pela preciosa dádiva. São João del Rey, 01/01/1980.
A história prossegue. Deu
esse padre um novo impulso às festividades jubilares do padroeiro. Ao seu tempo
tornaram-se famosíssimas na cidade as “Barraquinhas de Matosinhos”, assim
apelidadas as quermesses desse jubileu. Quem as alcançou, como este autor, não
exita em testemunhar sua excelência. Mesmo assim estiveram sumidas da imprensa.
Uma pequena notícia surge nos anos setenta [6]:
Muito animada
a festa do senhor Bom Jesus de Matozinhos, que teve início dia 27 de agosto e
vai até o dia 14 de setembro. As barraquinhas tem estado todos os dias muito
movimentadas, e a novena, que se iniciou domingo, contou com grande número de
fiéis. A procissão solene dar-se-á dia 14, às 16:30 horas, percorrendo as
principais ruas do bairro.
Eis
portanto que o cônego Jacinto Lovatto Filho [7],
legou para Matosinhos obras importantes e contribuiu sobremaneira para o
desenvolvimento social do bairro. É fácil constatar isso da boca dos fiéis que
vivenciaram seu trabalho. Seu paroquiato tinha tudo para ser excelente, mas com
lástima há de se considerar que foi maculado de forma indelével, pelas
desnecessárias demolições [8].
Esse fato, que nunca será demais repetir para a posteridade, recai como uma
sombra sobre a história da cidade e servirá de admoestação contínua, para a
defesa do nosso patrimônio, como serviram outrossim, o desaparecimento do
Aqueduto dos Arcos, do Pavilhão de Matosinhos, dos inúmeros casarões que se
foram, da primitiva fonte luminosa da Avenida Presidente Tancredo Neves, da
Ponte da Misericórdia, dentre outros tristes exemplos.
Após
esse pároco atuaram os seguintes sacerdotes nessa matriz:
-
padre Adelmo José da Silva (pároco – desde 05/01/1986);
-
padre João Rodrigues de Paula (vigário paroquial);
-
frei Jordano Noordermeer (vigário cooperador);
-
padre Sílvio Firmo do Nascimento (vigário paroquial);
-
padre Delçon José de Oliveira (administrador paroquial – desde
março/abril de 1989);
-
padre Pedro Teixeira Pereira (pároco solidário, jan.–jun./1991) [9];
-
padre Lourival de Salvo Rios (vigário paroquial).
Em
1985 é criada a paróquia de São Sebastião, sediada na igreja desse mártir em
Santa Cruz de Minas. Com isto, um imenso território é desvinculado
definitivamente de Matosinhos. A nova paróquia abrangia toda Santa Cruz de
Minas, as colônias do Marçal e Giarola, além de César de Pina e Águas Santas [10].
As
festas de Matosinhos embora com melhorias religiosas, inclusive por exemplo o
surgimento das comemorações da Semana Santa e São Cristóvão, continuavam desaparecidas da imprensa. Uma notícia isolada surge
em 1987, sob o título “A grande Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matozinhos” [11]:
A paróquia do Senhor Bom
Jesus de Matozinhos está em festas realizando o jubileu do seu padroeiro. A
novena dará início dia 05/09 às 18:30 hs e irá até o dia 13/09. Haverá a
celebração da exaltação a Santa Cruz e missas de hora em hora a partir das 6
horas e finalizará com uma grande procissão às 16 horas. Após o término desta
haverá bênção e distribuição da sagrada eucaristia. Já estão funcionando no
adro da igreja matriz as tradicionais barraquinhas. A novena contará com a
participação de vários padres da Diocese sob a coordenação do pároco Padre
Adelmo José da Silva e a colaboração carinhosa de Frei Jordano e Pe. João
Rodrigues. No que diz respeito à parte administrativa, está sendo reformada a
casa paroquial e anexo está um escritório, onde se desenvolverá um trabalho de
pároco a nível pessoal com os paroquianos. Também está sendo construída no
Bairro da Vila Santa Terezinha, uma funcional e aconchegante igreja, já que a
capela antiga se encontrava em estado precário e não atendia às necessidades
dos moradores do bairro. Do ponto de vista pastoral induz o leigo a se
conscientizar de que ele é uma peça importante na formação da unidade cristã e
renovada. O jovem vigário (sic), Padre Adelmo José da Silva, ordenou-se no dia
07/05/1985 e tomou posse na paróquia no dia 05/01/1986. A sua dedicação e
carinho, conquistou a todos os paroquianos neste pouco espaço de tempo em que
ele está à frente da maior paróquia da Diocese; paróquia esta que conserva suas
tradições mas que sob a orientação do jovem pastor, se renova de uma forma
moderada, vencendo as dificuldades sendo ele acima de tudo uma luz e guia para
o seu rebanho. Ao Padre Adelmo e seus auxiliares, os nossos agradecimentos e
que o Sr. Bom Jesus e a Virgem da Piedade os protejam sempre. Raimundo Correa -
Presidente
Estava
próximo do fim mais uma fase da vida paroquial.
* Ulisses Passarelli
[1] - In: Revista de História e Arte. Belo
Horizonte: Instituto de História, Letras e Arte, l966. Ano 3, n. 7.
[3] - Jornal de Minas, n.11, 12/09/1969.
[5] - Tribuna Sanjoanense, n.190, 09/09/1977.
[6] - O Raio, n. 235, 08/09/1976.
[7] - Faleceu em 25/07/2004. Sepultado no dia
seguinte, no Cemitério das Mercês. Sobre seus dados biográficos básicos ver o
livro de José Cláudio Henriques.
[8] - Ao seu tempo foram demolidas também as capelas
primitivas da Colônia do Marçal (N.S.da Conceição) e Santa Cruz de Minas
(S.Sebastião) e edificaram-se os templos atuais. Sobre a do Marçal sabe-se que
sua construção foi longuíssima e somente em 2002 ganhou a pintura externa e em
2003 o calçamento do adro com bloquetes. Em agosto/2004, iniciou-se a
construção da torre. Sua bênção deu-se em 08/12/2005, quando ficou pronta, graças
aos esforços do seu primeiro pároco, padre Antônio Claret Albino. No ano
seguinte são construídos a cúpula e os dois medalhões externos com temas
marianos. A criação desta paróquia em 1999 desvinculou da de Santa Cruz de
Minas o território contido no núcleo colonial, César de Pina e Águas
Santas.
[9] - Atualmente este sacerdote ainda celebra em
Matosinhos, todas as sextas-feiras, 15 horas.
[10] - Santa Cruz de Minas pertencia à paróquia de
Santo Antônio, da cidade de Tiradentes, até a criação da paróquia de
Matosinhos, quando então, passou para seu controle. Era na ocasião um arraial,
com poucas casas ao redor da capela de São Sebastião, cuja pedra fundamental
foi benta em 29/06/1937, pelo padre José Bernardino da Silveira, que rezou ali
a primeira missa (campal). O terreno para a construção foi doado pela
prefeitura de Tiradentes. Fincou-se um cruzeiro no local, donde veio o nome do
lugar. Só foi elevada a vila em 30/12/1962 (lei estadual nº 2.764). A
emancipação política deu-se a 21/12/1995 (lei estadual nº 12.030). O município
foi oficialmente instalado a 01/01/1997, sendo primeiro prefeito o sr. José
Antônio dos Santos, que exerceu dois mandatos consecutivos. O primeiro pároco
foi o padre Claudir de Possa Trindade, em 1985. Substituiu-lhe o padre Antônio
Claret Albino, em 1997 e a este o padre Pedro de Jesus Wiermann, em 1999. Em
1990 estava em construção a capela
do Sagrado Coração de Jesus, na COHAB, na mesma jurisdição eclesiástica.
[11] - Tribuna Sanjoanense, n. 542, 21/08/1987.
Nenhum comentário:
Postar um comentário