Listagem de textos pesquisados
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Maio/ jun. 1999, n. 178, ano 23.
Posfácio
Após quinze
anos de pesquisas sobre a Festa do Divino no Bairro de Matosinhos, ficou-me
claro o êxito alcançado por aqueles pioneiros, os que prosseguiram e os que
saíram, corroborados mais tarde por tantos que se tornaram festeiros ao longo
desse período. O projeto inicial previa dez anos para completar o processo.
Contudo, o previsto aconteceu antes da metade desse tempo. O restante do prazo
foi trabalho de consolidação, para o qual contribuíram de forma indelével os
voluntários e fiéis isolados (muitas vezes de outros bairros). Foi fundamental
o apoio dos patrocinadores. Também não haveria êxito sem a ajuda de tantos
setores da paróquia, das comunidades do grande bairro, dos grupos folclóricos e
demais integrantes, tudo e todos em trabalho conjunto e obviamente do próprio
pároco Pe. José Raimundo, raiz dessa experiência, antes mesmo da formação da
comissão.
É mister registrar outrossim o apoio da Prefeitura Municipal. Por outro lado o apoio dos
órgãos envolvidos com a cultura ficou aquém das reais necessidades para um
evento pujante, com força cultural de uma tal magnitude. Mas a festa é maior
que essas dificuldades e prossegue.
Ano a ano ela chama a
atenção sobre si pelo imenso poder de agregar atrações as mais diversas, sob a
força de um ideal, sob uma luz inefável que irradia do Poder Divino, que sem
dúvidas é o que move cada fiel a participar, cada imperador a aceitar a
responsabilidade da coroação, cada festeiro a trabalhar pela festa, cada
dançante a exprimir sua fé com alegria, cada sacerdote a guiar seu rebanho
nesta circunstância.
Nas entrelinhas da estrutura
festiva é também possível averiguar, com imparcialidade, que não há mais margem
para um crescimento acentuado, a não ser que uma mudança ousada e isenta de
sentimentalismo seja feita na programação, para ganhar tempo nos eventos e
entremeios, além de facilitar a organização de certos momentos cruciais, sem
descaracterizar o núcleo temático da festa ou a sua identidade atual. Isto
começou a se esboçar após 2010.
Houve uma desvirtuação (ao
menos no plano teórico) do ideal do resgate histórico, quando ao longo do tempo
foi dado aos congados e à missa inculturada uma relevância muito superior às
demais partes da festa. É fato inquestionável a desigualdade das folias frente
aos congados.
Shows
finais de grande porte deixaram margem à reflexão sobre sua validade de ordem
prática, pelo pequeno retorno esperado de conteúdos simbólicos à festa, versus custos, infra-estrutura,
dificuldades organizacionais, necessidades midiáticas e de segurança. A festa
de 2009 apontou uma melhoria deste quadro.
A presença recente no meio
do cortejo imperial de grupos para-folclóricos de percussão, entremeados aos
congados não é aconselhável, como sempre frisam os folcloristas em semelhante
prática. O para-folclore deve ter espaço e tempo próprios posto ser uma
projeção estética da tradição popular, distinta da manifestação de raiz.
As mudanças nos rituais da coroação nas últimas
festas deram-lhe maior vivacidade, mas devem ser vistas com ressalvas para que
no futuro não se tornem desenfreadas, por demais teatralizadas. Em vista disto
em 2009 houve uma mudança positiva.
O espírito de fraternidade
deve ser continuamente trabalhado, sem jamais perder de vista os ensinamentos
religiosos à luz do Divino, para que o desejo do belo, do organizado não
sobrepuje o lado religioso e o espírito de irmandade. Enfim é de se esperar que
a festa não se torne um carnaval da fé. Essa a razão das observações aqui
feitas.
A existência com êxito de
uma festa deste porte, irrompida de longa letargia, demonstra a força da fé e
do trabalho da gente brasileira, mineira, são-joanense, matosinhense. O
jubileu, a persistir pelo menos assim como o vemos hoje, será sempre uma fonte
inesgotável para evangelização e uma ferramenta educacional.
A Festa do Divino é mais um
reflexo do nosso barroquismo, entendido em seu contexto mais amplo. É um raio
de efusão do saber popular, harmonizado a uma fé motriz. É a coroação dos
esforços conjugados, de fiéis e Igreja, como um só ser. O fiel é o ar, a Igreja
é o pulmão. Esta é a unidade que o Espírito Santo traz.
Entrada do Cortejo, puxada pela Bandeira dos Imperadores, ao centro. Jubileu do Divino, Santuário do Sr.Bom Jesus de Matosinhos, São João del-Rei/MG. |
* Texto: Ulisses
Passarelli, 14/06/2010
** Foto: Iago C.S. Passarelli, 19/05/2013
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